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Revista v. 01, n. 01

O que pode haver em comum entre a psicanálise e o barroco? Qual seria o sentido da conexão entre esses dois campos tão diversos? Em que o barroco poderia interessar à teoria e à clínica psicanalítica? Que tipo de interlocução atenderia tanto à expressão barroca como à psicanálise?

Nossa Revista tem por objetivo dedicar-se à abordagem de questões como essas e sobre as quais temos nos dedicado desde 1999 no projeto “Psicanálise & Barroco: aproximações no campo da ética”, desenvolvido junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Subjetividade e Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora. Esse projeto teve como ponto de partida nossas pesquisas, que remontam a 1992, sobre a ética da psicanálise. Durante esse trabalho que desenvolvemos, promovemos articulações entre a psicanálise e a arte trágica, até chegar ao ponto em que nos encontramos atualmente, no qual agregamos ao site www.psicanaliseebarroco.pro.br, esta revista eletrônica.

A questão "O que devo fazer para ser feliz?" está no centro de toda reflexão ética. A referência à ética diz respeito à maneira de se pensar a relação do sujeito com sua ação. No que diz respeito à psicanálise, vale tanto compreender qual é o sentido da intervenção de um psicanalista - o que ele visa - quanto qual a função da intervenção da psicanálise na cultura - o que ela pretende? Em ambos os sentidos, o que encontramos é uma concepção da condição humana perpassada pelos impasses e conflitos inerentes à própria humanidade. Nesse sentido, a psicanálise não trabalha nem com visões ideais de sujeitos e nem com idealizações do mundo.

A arte barroca parece ser a expressão plástica e literária do sujeito tal qual abordado pela ética psicanalítica, trazendo subsídios de visibilidade para a difícil transmissão dessa ética, que foi e ainda é, tantas vezes, confundida com éticas psicológicas e filosóficas diversas. A partir de então, acabam se originando lamentáveis distorções da originalidade da proposta freudiana, sendo esse o ponto no qual se situam tanto sua fecundidade clínica quanto a riqueza de sua contribuição para a cultura.

Este trabalho, que nos exigiu uma verdadeira imersão no barroco a fim de captar-lhe o espírito, vem ganhando muitos outros desdobramentos, como os que são citados a seguir: a partir da proposta de Eugene d'Ors, pensar o barroco e o clássico como dois modos de orientação do psiquismo, duas formas de sensibilidade; entender, com Irlemar Chiampi, o barroco como precursor da modernidade, que, nesse caso, é localizada por Baudelaire como a inauguração da uma nova concepção de abordagem do belo, que passa, então, a reconhecer a beleza do que se movimenta, do que se transforma e também do que é transitório tal como igualmente é defendido por Freud.

Privilegiamos utilizar o espaço dessa Revista, que caracterizamos como uma publicação de Psicanálise, Arte e Cultura, para a publicação do que estamos chamando nossa obras avançadas, ou seja, monografias, ensaios e artigos que foram desenvolvidas por pesquisadores que integram a equipe do projeto. Além disso serão incluídos também textos de colaboradores com quem estabelecemos parcerias de trabalho. Nessa mesma perspectiva estaremos acolhendo ainda propostas de textos a serem incluídos em próximos números, mediante o aval de nosso Conselho Editorial. As normas para o seu remetimento encontram-se explicitadas no site da pesquisa.

Neste primeiro número destacamos a interlocução com a literatura. Os trabalhos de Raquel Ruff e de Camila Hallack, cada um dentro do estilo próprio de suas autorias, focalizam a literatura barroca de modo a oferecer uma abordagem que promova sua articulação com a psicanálise e sua ética.

Encontra-se também disponibilizado neste número, a peça A face oculta do amor, de nossa autoria, que diz respeito a versão teatral do livro de mesmo nome. Trata-se da tentativa de valer-nos da arte como um operador nas possibilidades da transmissão da psicanálise. Quanto ao livro mencionado, o mesmo contou com uma apurada resenha crítica do psicanalista e escritor Marco Antônio Coutinho Jorge, também publicada nesta edição.

Chamamos a atenção ainda para a resenha que o escritor Gilberto Felizberto Vasconcellos fez do livro Idéias Filosóficas do Barroco Mineiro de Joel Neves. Com seu estilo sempre arrojado e perspicaz, Gilberto nos oferece uma lente curiosa para a apreciação dessa importante obra.

Sendo assim, sem mais, convidamos nossos leitores a um pequeno mergulho nessas águas adensadas pela literatura à luz da psicanálise, onde o barroco a tragédia e reflexões desta natureza compõem o que agora lhes apresentamos, esperando que gostem.

Por Denise Maurano Mello




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Dr. Bruno Carvalho,
8 de out. de 2016, 21:29
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Dr. Bruno Carvalho,
8 de out. de 2016, 20:53
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8 de out. de 2016, 20:53
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